Um dia construímos nosso próprio jardim e plantamos tantos
sonhos nele que não fomos capazes de colher. E eu te vi em meio a sua timidez e
você me viu em meio aos livros e nos encantamos um com o outro.
E aos poucos fomos crescendo juntos e descobrindo o quando éramos
limitados. E fizemos planos pra um futuro tão distante e pleno, escolhemos os
nomes dos nossos filhos e fizemos até doutorado no nosso imaginário.
Nós poderíamos ter feito tantas coisas, que só ficaram no
nosso imaginário, nós poderíamos ter visto mais ao por do Sol, viajado mais,
ousado mais... Ter feito o que nós queríamos fazer.
Mas preferimos criar muros em cima das nossas vontades e
culpamos primeiramente a falta de dinheiro, depois a falta de tempo, a falta de
iniciativa um do outro e culpamos a jornada a nossa volta, mas a culpa era
nossa. E nós dois permitimos que a perigosa teia da rotina nos envolvesse e nos
prendesse como uma presa fácil, aos poucos, tínhamos preocupações demais, obrigações
demais e devagarzinho íamos nos afastando de Deus, aos poucos os planos para o
futuro já esmagavam o nosso presente, que ia se definhando. Acabamos percebendo
que viver os planos não era viver o presente, que pensar no amanhã não era
pensar no hoje.
E Eu fui deixando esse muro frio de obstáculos crescer entre nós e você viu eu me afogar, nas águas geladas de uma solidão interna que
era só minha e preferiu se calar.
Hoje somos dois estranhos, porque a mágoa cobriu nossos
rostos com as suas sombras, hoje não vemos mais o futuro porque o nosso
presente não existe mais, agora nos restam ás lágrimas pelas coisas loucas e
ousadas das quais não fizemos.
(Alessandra Almeida)